Processo acelerado de acumulação tecnológica une passado e futuro.
A história da tecnologia é essencialmente humana, uma trajetória repleta de acidentes e becos sem saída, mas também de atalhos e conquistas. Vivemos um período de aceleração sem precedentes? O conhecimento tem um componente incremental e por isso ainda usamos as rodas inventadas por nossos antepassados mesopotâmicos, mas agora produzidas não com bronze, mas sim com ligas de titânio fundidas por feixes de elétrons. A acumulação tecnológica é uma característica intrínseca à inovação, mas atingiu um patamar sem precedentes nos tempos atuais.
E um dos elementos chaves para o entendimento da acumulação tecnológica é sua capacidade de selecionar, reinventar e adaptar o que é o útil e funcional, descartando técnicas obsoletas. Vemos este processo em ação nos mais diversos avanços, como o robô colhedor de vegetais desenvolvido com investimentos do programa europeu Horizonte 2020 (H2020). O protótipo apresentado no final de 2018 usufrui das técnicas de plantio da primeira revolução agrícola, ainda no neolítico, assim como dos estudos Tayloristas para replicação de tempos e movimentos humanos, do final do século 19, e mais todo o extraordinário avanço em automação e microprocessamento das décadas passadas. O novo, ali, é o algoritmo de machine learning, capaz de “ensinar” o robô a diferenciar, neste caso específico, pimentões verdes de pimentões maduros.
Nossos carros, celulares, televisores e, em breve, corpos, trazem uma quantidade cada vez maior de tecnologia embarcada. Os limites deste processo de acumulação escapam da nossa capacidade de previsão, mas algumas apostas já estão sendo feitas, baseadas na premissa de que cada avanço tecnológico desenvolvido ao custo de tecnologias passadas gera ferramentas ainda melhores para novas descobertas. Estamos acumulando cada vez mais tecnologia e o ritmo tende a acelerar mais e mais.
O futurista Ray Kurzweil, por exemplo, acredita em uma revolução próxima (e inevitável), devido aos avanços em genética, nanotecnologia e robótica:
·A genética permitirá alterações no DNA humano e dos outros seres vivos. Sua base veio com o projeto do genoma humano.
· A nanotecnologia permitirá a manipulação da matéria em escala molecular e atômica. Atualmente, já permite a existência de lentes de contato inteligentes e nanopartículas caçadoras de câncer.
· A robótica levará à Inteligência Artificial ampliada, mais poderosa que a mente humana.
Todos os três avanços, ou revoluções, como chama Kurzweil, baseiam-se em uma infinitude de descobertas ao longo dos últimos 10 mil anos, acumuladas de forma não sistemática pela espécie humana. Cada um é poderoso em sua capacidade de transformação, mas juntos convergem para um momento único na história da civilização.