Ferramentas de machine learning são as novas aliadas dos arqueólogos.
Herculano e Pompéia eram prósperas cidades romanas, na Baía de Nápoles. Ao meio dia de 24 de agosto de 79 d.C foram atingidas pela erupção do Vesúvio, e soterradas por lama, lava e cinzas. Redescobertas no início do século passado, as duas são verdadeiras cápsulas do tempo, oferecendo aos pesquisadores um retrato da vida e costumes da Roma antiga. Um de seus tesouros mais preciosos, entretanto, permanece inacessível. São dois rolos de pergaminho (foto) resgatados nas escavações de Herculano, íntegros, mas carbonizados. Com o uso de técnicas de machine learning, pesquisadores da Universidade do Kentucky trabalham para revelar os segredos destes textos, escritos há mais de dois mil anos. É um dos exemplos de como ferramentas de última geração são usadas na exploração do passado. Cientistas afirmam que a Inteligência Artificial e a Big Data podem revolucionar a arqueologia.
A iniciativa para restauração digital dos documentos de Herculano utiliza o synchotron, um equipamento que acelera elétrons a uma velocidade próxima à da luz, emitindo um brilho maior que o sol, e com elevada capacidade de foco. Os cientistas utilizam então a luz para registrar cada uma das frágeis camadas do pergaminho. As imagens da “tinta de herculano” são de difícil compreensão e os pesquisadores propuseram, em um artigo deste ano, usar uma única página do pergaminho como base para treinar um programa de machine learning a identificar os padrões e, assim, permitir a “tradução” de todo o texto. E o que eles esperam encontrar? Mesmo uma simples lista de compras nos ajuda a compreender melhor a história da época, mas as expectativas são altas e não faltam apostas em textos originais de filosofia ou mesmo sobre os primeiros anos do Cristianismo.
Outros usos estão em estudo ou com resultados já apresentados. Um dos mais conhecidos foi a localização de um antigo assentamento viking no Canadá, via leitura de imagens por satélite. A descoberta muda a maneira como conhecemos a ocupação da América pelos europeus. As mesmas técnicas, baseadas na já reconhecida capacidade leitura de imagens por ferramentas de Inteligência Artificial, está em uso na busca de ocupações desaparecidas há milênios tanto nas selvas mexicanas como nos vales da mesopotâmia e Egito. Ou no reconhecimento das primeiras civilizações a ocupar a Índia, na Era do Bronze.
O arqueólogo Iris Kramer, da Universidade de Southampton, na Inglaterra, destaca algumas de suas vantagens: “Os algoritmos baseados em deep learning permitem aos arqueólogos investir mais tempo na identificação das peças do que simplesmente verificando se determinada imagem é de uma peça histórica ou não”.