Experimento explora a capacidade dos microrganismos para transportar e armazenar informações, o que pode resultar em uma versão biológica da Internet das Coisas.
A cada vez mais complexa rede de dispositivos conectados entre si e trocando dados a todo momento vem sendo chamada de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). A integração desses aparelhos e itens do dia a dia tem se mostrado uma tendência que promete estar presente em nossas vidas por muito tempo. São os softwares e circuitos eletrônicos tornando nossa vida mais fácil.
Mas um grupo de cientistas vêm explorando possibilidades que vão além das máquinas. Em 2018 o italiano Federico Tavella coordenou um trabalho que fez com que bactérias Escherichia coli recebessem e transmitissem mensagens simples, tais como “Olá, mundo!”. O fato de as bactérias serem capazes de se “comunicar” de forma eficaz, possuírem diversos mecanismos e “sensores” e uma complexa arquitetura de armazenamento e processamento de informações chama a atenção.
As E. Coli guardam informações nos plasmídeos, estruturas de DNA em forma de anel, e podem transmiti-las a outros espécimes por um processo chamado de conjugação. Além disso, elas se movimentam, possuem receptores na parede celular que detectam luz, temperatura, substâncias químicas etc e são minúsculas. Para completar, são organismos relativamente fáceis de “projetar” e manipular.
A partir dessa constatação Raphael Kim e Stefan Poslad, professores da Universidade Queen Mary de Londres, se debruçaram sobre a pergunta: se é assim, por que não usar bactérias para desenvolver uma versão biológica da Internet das Coisas?
As aplicações, segundo eles, podem ser as mais variadas. “As bactérias podem ser programadas e implantadas em diferentes ambientes, como o mar e as ‘cidades inteligentes’, para detectar toxinas e poluentes, coletar dados e realizar processos de biorremediação”. E mais: “Abrigando DNA que codifica hormônios úteis, por exemplo, as bactérias podem nadar para um destino escolhido dentro do corpo humano, produzir e liberar hormônios quando acionadas pelo sensor interno do micróbio”, comentam.
Mas há também preocupações quanto ao que pode acontecer se o uso desses microrganismos for amplamente difundido. A começar pelo fato de que as bactérias não possuem GPS nem funcionam como computadores nos quais a mensagem sai de um lugar específico e se direciona a outro(s) de forma razoavelmente rastreável. Há limites em controlá-las.
Também o processo de evolução desses seres, com mutações e seleções, pode gerar consequências imprevisíveis. Sem falar no risco de pessoas mal-intencionadas entrarem no jogo e interferirem de forma negativa, tal qual um hacker espalha um vírus de computador.
Fica a tarefa para a comunidade científica, a de refletir sobre as possibilidades e os limites dessa vertente. “Esses desafios oferecem um espaço rico para discussão sobre as implicações mais amplas dos sistemas da Internet das Coisas, impulsionados por bactérias”.
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