Aprendizagem de máquina sobreviveu ao quase esquecimento para voltar ao foco das empresas e cientistas.
Avanços tecnológicos surpreendentes, robôs, algoritmos complexos, computadores cada vez mais potentes e rápidos: bem-vindos à espantosa década de 1960. O mundo vivia suas revoluções e a inteligência artificial era um trending topic, com quadrinhos, seriados, filmes e livros investindo no tema. Por pouco tempo. A decepção com a falta de resultados concretos levou o assunto ao descrédito e ao esquecimento por um longo período. Foi necessário um duelo épico, mais de 30 anos depois, para as atenções se voltarem novamente para as máquinas pensantes.
Em fevereiro de 1996, o então campeão mundial de xadrez Garry Kasparov enfrentou Deep Blue, o supercomputador desenvolvido pela IBM, com 256 coprocessadores e um banco de dados com mais de 700 mil partidas de mestres do jogo. Kasparov perdeu a primeira rodada, recuperando-se ao longo das seguintes e vencendo ao final por 4 x 2. Confira os lances aqui. O evento atraiu atenção mundial e despertou o público para a possibilidade de computadores realmente estarem ganhando novos poderes.
Um ano depois, os dois voltaram-se a se enfrentar para uma revanche. Deep Blue recebera uma atualização completa, mas foi um erro de programação o responsável por seu desempenho surpreendente. Na primeira partida, o hoje famoso “lance 44” do Deep Blue desconcertou o enxadrista russo, que, mesmo vencendo a rodada, perdeu ou empatou todas as seguintes. Documentário de 2014 afirma que um bug no programa levou o computador a tomar uma decisão ilógica.
Deep Blue era um legítimo sistema Machine Learning, capaz de tomar suas decisões e predizer os movimentos do adversário por meio de algoritmos de análise de dados. À época do duelo, os termos Inteligência Artificial e Machine Learning já haviam se tornado distintos. Pesquisadores de Inteligência Artificial focaram abordagens mais lógicas e menos dependentes de algoritmos, enquanto o investimento nas redes neurais, teoria das probabilidades e métodos estatísticos definiu o caminho do Machine Learning.
No início dos anos 2000, com a disseminação da internet, o mundo da Tecnologia da Informação percebe o valor dos sistemas focados na análise de dados e o Machine Learning inicia sua ascensão. Afinal, os dados tornam-se abundantes e é evidente a relação entre a quantidade dessas informações e a capacidade dos sistemas em aprender com elas. Mais dados, melhores resultados.
Um breakthrough definidor, neste período, foi a publicação do artigo “A fast learning algorithm for deep beliefs nets”, em 2006. O algoritmo proposto pelos autores resolvia um dos maiores desafios das redes neurais e, a partir dele, com algumas poucas contribuições, surgiu o que hoje denominamos Deep Learning e as respectivas Deep Neural Networks (DNN).
A empresa de identificação de tendências Gartner aponta que o termo Inteligência Artificial está superexposto, abrangendo uma série de inovações em diferentes estágios de desenvolvimento e com opiniões divergentes. Entretanto, em seu mais recente relatório sobre Machine Learning, faz um alerta específico aos investidores sobre a importância da DNN e suas tecnologias associadas, como ensemble learning e análise preditiva e prescritiva. A questão, apontam seus especialistas, não é o que ela é capaz de fazer e sim qual problema pode ser por ela solucionado.
Atualmente, os sistemas de Machine Learning estão presentes em tecnologias chave para o futuro, como os aparelhos Google Home e Amazon Echo. Pelo crescente investimento, é possível afirmar que esta breve história contada até aqui deve continuar pelas próximas décadas.