Integração com o celular disseminou a tecnologia, mas risco de abuso também é crescente.
Como muitas tecnologias inovadoras, o reconhecimento facial por imagem guarda um tremendo potencial para simplificar, melhorar e tornar mais seguros muitos aspectos da nossa vida. Do sistema bancário ao atendimento médico, passando pelo comércio, entretenimento, trabalho e educação. Tema frequente na ficção científica, tornou-se primeiro uma aposta, depois uma tendência. Hoje, é uma realidade e a chave de seu sucesso é a integração com os celulares. A empresa de estudos de tendências Counterpoint estima que, até o final de 2020 – e 2020 já é – mais de um bilhão de smartphones terão algum tipo de desbloqueio baseado em reconhecimento facial (ou via digital), além de um crescente número de aplicativos de entretenimento e criação de conteúdo, como o Beard Booth, o Face Swap ou o Truthify.
A integração com o celular sinalizou para a indústria que o reconhecimento facial veio para ficar. Estudo da Allied Market Research estima que o mercado mundial de detecção facial vai atingir US$ 9.6 bilhões até 2022.
O crescimento acelerado chamou a atenção não apenas da indústria. Suas implicações transcendem o campo da tecnologia, e devemos esperar uma batalha em torno das implicações de seu uso generalizado. Usuários, empresas, governo e a sociedade civil compartilham alguns pontos, mas divergem em dezenas de outros, principalmente em relação à sua aplicação nas áreas de segurança e em questões envolvendo privacidade.
Muitos especialistas acreditam que há uma similaridade com o processo de popularização do automóvel. Por décadas, o setor manteve-se desregulado, ou com regras pouco rígidas, em um mundo que estava aprendendo a conviver com os carros. Tanto as leis de trânsito como as próprias especificações de segurança para a indústria eram desconexas e pouco compreendidas. Basta lembrar, por exemplo, que a obrigatoriedade de uso do cinto de segurança é uma conquista bastante recente. Na verdade, a indústria automobilística nem mesmo era obrigada a equipar os carros com esses itens até o final da década de 1960.
O principal temor relacionado ao reconhecimento facial é o uso abusivo por empresas e governos. A capacidade de uso em massa por regimes, autoritários ou não, é um receio antigo e real. Há indícios de que a China usa ferramentas no controle de minorias étnicas e, não por acaso, os manifestantes de Hong Kong abusam de sombrinhas e máscaras para também não caírem nos sistemas de controle político. Cidadãos de países democráticos enfrentam problemas diferentes, mas tão graves quantos. As denúncias de algoritmos preconceituosos baseados em reconhecimento de imagens são inúmeras.