Uso de “robôs” tem influenciado a política mundial os últimos anos. Quase sempre negativamente.
Desde que a comunicação tornou-se de massa, deter os meios e as habilidades para promovê-la tornou-se sinônimo de poder. A prensa de Gutenberg, as ondas radiofônicas e o sinal de TV permitiram que informações fossem difundidas cada vez mais rapidamente e com maior abrangência. A tecnologia dos computadores, satélites e internet, por sua vez, alavancou esse processo para níveis inimagináveis.
O potencial de influência na opinião das pessoas é enorme. Mas se por um lado eloquência, capacidade de persuasão e credibilidade continuam sendo predicados relevantes, há outros elementos que colocam em xeque os velhos padrões e até mesmo a lisura do processo. A combinação entre Big Data e Inteligência Artificial (IA) tem sido usada, muitas vezes, de forma maliciosa.
Tornou-se popular a utilização dos chamados bots para a disseminação de conteúdo nas redes sociais. Diminutivo de robot, o termo abrange aplicações automatizadas dotadas de IA, capazes de repetir ações como se fossem usuários reais. O uso dessas ferramentas, sobretudo na esfera política, é público e vem sendo cada vez mais estudado.
Uma das iniciativas nesse sentido é o “The Computational Propaganda Project” (Comprop), da Universidade de Oxford. Cientistas sociais e da informação vêm acompanhando desde 2012 o uso de algoritmos e bots na chamada “propaganda computacional”. O objetivo é compreender o funcionamento dessas ferramentas, saber mais sobre quem as desenvolve e, assim, incrementar as formas de detectá-las e impedir seu potencial de distorção e manipulação.
Os casos são cada vez mais comuns. Os “political bots” são amplamente utilizados em situações de crise para promover os interesses de governos em apuros, distorcer informações, desmobilizar discursos opositores e gerar falso apoio em plataformas como o Facebook e o Twitter. Uma das principais linhas de atuação do projeto Comprop tem sido reunir dados e fazer análises acerca dos casos ao redor do mundo, para municiar as tentativas de conter estragos no futuro.
Relatório recente publicado pelo Oxford Internet Institute, que sedia o Comprop, indica que em 48 países já ocorreu manipulação ampla e organizada em mídias sociais. O Brexit e as eleições norte-americanas de 2016 foram episódios largamente explorados, e nem mesmo o Brasil ficou de fora, com influência na campanha presidencial de 2014, no impeachment de Dilma Rousseff e no pleito do ano passado.
Os bots são usados para impulsionar hashtags, publicar e repercutir conteúdos. E aí entra outro vilão da história – assunto que dá pano pra manga: as fake news (também chamadas de junk news). Por meio dessas ferramentas, informações inverídicas ou tendenciosas podem chegar a milhões de pessoas, causando um estrago que nenhum direito de resposta é capaz de sanar. Mas isso é assunto para um outro texto.
É claro que também as pessoas replicam fake news, fazendo as vezes dos robôs, e aí o desafio é tão difícil quanto. Mas o trabalho silencioso e incansável dos bots faz diferença. Alguém precisa detê-los.