Bioengenheiros desenvolvem cateter que navega pelo sistema cardiovascular com o uso de inteligência artificial.
Se lembra dos carros autônomos, dos quais falamos neste artigo? Pois bem. Um sistema baseado em princípios semelhantes envolvendo inteligência artificial e reconhecimento de imagens está em desenvolvimento por bioengenheiros do Hospital Infantil de Boston, com a promessa de encontrar e ajudar a sanar problemas cardíacos. A primeira demonstração foi bem sucedida e relatada na Science Robotics.
O grupo de pesquisadores, liderado por Pierre Dupont, criou um cateter cuja missão era encontrar vazamentos em válvulas do coração. Há mais de uma década já há pequenos robôs guiados por controle remoto para esse fim e catéteres dirigidos com o uso de magnetismo, mas em ambos os casos a condução exige muita perícia e esforço dos médicos. Incluir inteligência artificial no dispositivo tem como objetivo desobrigar os profissionais dessa função para que possam se dedicar apenas à solução do problema.
O sistema de inteligência artificial que conduz o cateter é alimentado previamente com informações dos exames pré-operatórios. A partir disso, por meio de sensores, ele avalia o ambiente em seu redor em intervalos regulares, decidindo qual o próximo passo a dar, tal como fazem os insetos com suas antenas ou roedores com seus bigodes. Uma câmera na ponta do aparelho completa seus “sentidos”, permitindo usar a identificação de imagens para compor a avaliação da ação.
No teste, realizado em válvulas artificiais imitando tecidos humanos, o cateter foi capaz de percorrer o coração desde sua base, passando pela parede do ventrículo e percorrendo a válvula danificada até encontrar o vazamento milimétrico. O tempo médio gasto pelo aparelho para localizar o vazamento foi praticamente igual àquele registrado por humanos.
Além de automatizar um processo até então essencialmente humano, essa descoberta pode eliminar a necessidade de exames fluoroscópicos, comumente utilizados em procedimentos como esse e que expõem os pacientes à radiação e efeitos colaterais.
Para Dupont, chefe de cardiologia pediátrica do hospital, esse foi o primeiro registro de algo equivalente a um carro autônomo utilizado no campo da saúde, transitando no sistema circulatório humano. Esperamos de coração que a técnica seja aprimorada e em breve esteja a serviço de muitas pessoas.