Redação do Enem discute tema atual e necessário
Somos manipulados pela internet? A questão foi tema da redação do Enem e as discussões ultrapassaram o universo dos vestibulandos. Há anos o assunto está em alta e, durante o recente período eleitoral, tornou-se um dos “trending topics” da vida digital e analógica.
Os gregos já discutiam a manipulação, mas foi a Sociologia a primeira a abordar de forma científica seu significado, no início do séc. 20, e logo depois os pioneiros teóricos da Comunicação transformaram a ideia em um conceito central em análises e estudos, ao longo das décadas do pós-guerra.
A manipulação não é uma violência aberta, física ou moral infligida às pessoas. Seu conceito pressupõe a ausência ou supressão da capacidade crítica do manipulado. É uma forma de exercer influência e poder, mas sem legitimação. Os estímulos permanecem ocultos, criando assim uma falsa consciência, e, a partir dela, a vítima das práticas crê falsamente que tomou uma decisão racional.
As novas Tecnologias da Informação de Comunicação (TICs) trouxeram elementos que não existiam à época das primeiras teorias. Vale lembrar que elas chegaram acompanhadas por uma onda de euforia e expectativa de fortalecimento das individualidades e da liberdade de escolha. Já com décadas de existência (a world wide web é de 1992 e a exploração comercial foi liberada no Brasil em 1995), o cenário é muito mais cinza e não há respostas fáceis ou prontas.
Já discutimos aqui as possibilidades da Inteligência Artificial. Em um mundo movido a dados, a capacidade tecnológica de analisar, processar, filtrar e articular a informação cresce de forma exponencial. Novos mecanismos de controle surgem, mas não parecem ser suficientes para lidar com complexidade do mundo e das pessoas. Entretanto, é a própria complexidade a barreira final a limitar ações voltadas para a manipulação em massa. Um tema não para uma redação, mas para uma enciclopédia.
acho bastante necessário ao se discutir sobre a manipulação não só o surgimento das TICS mas sobretudo a questão da privacidade neste novo ambiente. A legislação sem´pre vai correr atrás da realidade, pela propria característica de cada uma. Assim, será que é necessásio repensar a legislação atual, brasileira e européia ? A GDPR serviu de base para a nosa lei de tratamento de dados, mas ela já não nasceu desatualizada ? OU devemos pensar em legislações mais principiológicas do que determinativas de comportamentos e “tipos jurídicos” num setor em que as transformações tecnológicas são tão velozes e acabam influenciando na relação entre as pessoas e entre as empresas ?