Análise de dados sobre comércio internacional de alimentos ajuda a entender a dinâmica da fome no planeta.
Por três anos consecutivos a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) vem registrando aumento nos indicadores da fome ao redor do mundo. Os dados de 2017, apresentados no final do ano passado, apontam que 821 milhões de pessoas vivem subalimentadas.
Contudo, o analisar os dados de produção e distribuição de alimentos, surgem questões morais relevantes: A fartura em alguns países e a carestia em outros é fruto apenas de fatores geográficos, significando que os países mais ricos têm terras mais férteis, ao contrário dos que passam por dificuldades? Ou o contexto socioeconômico mundial e as características do comércio internacional de alimentos influenciam na escassez em alguns territórios?
Um grupo de estudiosos liderados por Kyle Davis, do Data Science Institute, analisou dados oficiais das Nações Unidas sobre o comércio de alimentos em quase 180 países, ao longo do período entre 1986 e 2010. No estudo, foram exploradas 266 commodities – tais como arroz, soja, trigo e milho, bem como produtos de origem animal.
O objetivo da pesquisa foi entender como o comércio internacional auxilia ou prejudica o acesso equilibrado aos alimentos em todo o mundo. Identificando as quantidades de mercadorias produzidas, vendidas e compradas e traçados os fluxos delas a cada ano, os cientistas compararam o cenário com o de um mundo hipotético, no qual nenhuma transação fosse feita.
A principal descoberta foi que, apesar das distorções e desigualdades inerentes ao capitalismo atual, as transações efetuadas contribuem para uma distribuição mais equitativa dos alimentos pelo mundo. É por meio delas que países com grandes populações ou recursos agrícolas limitados podem ter acesso a alguns itens dos quais necessitam.
O próximo passo é compreender melhor como, depois de destinados aos países importadores, os suprimentos são distribuídos para as populações dessas nações. Para atender plenamente aos preceitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos em matéria de alimentação, é preciso garantir que as populações mais pobres tenham acesso a comida tão facilmente como as camadas mais abastadas.
E a análise dos dados pode ajudar nisso. Tomara que o faça.