Iniciativas baseadas em machine learning e open data buscam combater o vírus.
Com a atenção mundial voltada para a disseminação do coronavirus, a comunidade científica busca todo tipo de suporte para combatê-lo. É a hora para novas tecnologias provarem seu valor em campo, mas os esforços recentes mostraram apenas seus limites e algumas possibilidades.
O resultado de maior repercussão foi a ferramenta de inteligência artificial que primeiro disparou o alerta, muito antes das autoridades de saúde. Falamos dele aqui, mostrando como ainda em 31 de dezembro do ano passado o sistema da healthtech canadense BlueDot enviou a seus clientes um alerta de possível doença em regiões onde o coronavírus se manifestou. E mais. Ainda foi capaz de antever alguns dos primeiros destinos para os quais a enfermidade foi “exportada”: Seul, Taipei, Tóquio e Bangkok.
Entretanto, vale dizer que o alerta não foi capaz de identificar com clareza o grau de risco da doença e que, apenas algumas horas antes, de forma independente, um grupo de monitoramento, formado por médicos e pesquisadores voluntários, já preparava um alerta.
O BlueDot é uma ferramenta de machine learning, e, como todo sistema do tipo, depende do volume e da qualidade de dados disponíveis. Esse é um limite para as ações atuais. Epidemias como a do Covid-19 disseminam-se de forma rápida e dispersa em grandes áreas, dificultando a coleta e a interpretação de dados.
A identificação do surto é crucial, mas as novas tecnologias atuam em outras formas de combate. A principal delas, é claro, é a busca por algum tipo de cura. Há diferentes estratégias em curso. A Insilico Medicine, em Hong Kong, é uma empresa focada no uso de ferramentas de Inteligência Artificial e Deep Learning para a descoberta de tratamentos para doenças diversas. Eles compartilharam com a comunidade científica, recentemente, as estruturas de seis moléculas com capacidade teórica para atacar uma proteína específica do coronavirus.
A Inteligência Artificial foi usada no processo de geração, síntese e teste das estruturas moleculares e mais de 100 foram desenvolvidas e submetidas ao programa, restando as seis mais promissoras. “Nós encorajamos a comunidade científica a avaliar as moléculas e considerar a possibilidade de sintetizá-las para teste”, disse o CEO da Insilico, Alex Zhavoronkov.
Importante ressaltar que a sequência de DNA do vírus já foi identificada e tornada pública (no GenBank) pela Fudan University, de Shangai. Um pedacinho dele:
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Outras iniciativas estão em andamento ao redor do mundo, como o desenvolvimento da vacina pela Sanofi Pasteur, em parceria com a U.S. Biomedical Advanced Research Authority (Barda). Falaremos sobre elas aqui, em breve.
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Crédito da imagem: Pixabay